Quem sou eu?
- Sérgio Faria
- 6 de jun. de 2020
- 2 min de leitura

"Quem sou eu?" Perguntei com a voz sumida de emoção, sem destreza e sem razão… Senti-me rasgado pela tristeza e raiva, pela insegurança e desrespeito.
Rasguei as folhas de papel que não consegui escrever e deitei-me a dormir, pois é o único estado em que me sinto bem e que o meu corpo pede. Não escrevo e nem danço o fado que preenche a minha alma. Perdi o controlo do barco perdido em alto mar e a tempestade está no auge.
Resta-me o sono, aquele que o meu corpo anseia… Existe aquelas dores internas sem controlo, mas que são fortes e eficazes, são paralisantes, pois algo não está bem. Somos obrigados a parar e a respirar a dor que assume o nosso corpo, somos obrigados a gritar, porque engolimos a nossa voz com o receio de "desagradar" quem não nos é nada.
Hoje, antes de dormir, dancei, dancei ao som do fado, da dor, expressei a minha alma e sentimento. Deixei-me levar pelo batimento da música e o coração embalou-me. Transpirei, chorei, vivi aquele momento, senti dor, raiva, tristeza, ódio… Naquele momento só eu existia e o fado que me preenche e que dá cor às palavras escritas e sentidas por mim.
"Quem sou eu?" Pergunto com a voz cheia de nada e o nada é tudo. É tudo o que eu sou e posso ser, é tudo o que eu quero e não quero, o nada ou o tudo é uma escolha que só eu posso fazer. O nada é a dor que preciso de libertar, o tudo é a minha plenitude, é o meu ser livre das amarras que me prendem, do desrespeito que tenho por mim, das migalhas que ofereço a mim mesmo, da desvalorização que tenho por mim.
Prendi-me à dor que não consigo libertar, castrei-me como me castraram com medo de perder esse amor que pouco senti. Não soube ver o carinho que me era dado nas entrelinhas, apenas vivi e experimentei dor.
Neste momento apenas sinto que mereço mais, mas depois penso que não sou merecedor… Grito nas contradições que provoco em mim, no desespero de uma língua que domino, mas que não consigo vocabulizar. Sigo abraçado ao fado que me diz tanto e que o amo de uma forma única por ser igual a mim.
Tudo ou nada? É a questão que tenho que resolver, tenho que amar o nada para poder viver tudo o que eu quero ser.
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